domingo, 20 de abril de 2008

QUASE NU - Estréia 24/04, no ACT

QUASE NU
de 24/04 à 04/05
quinta a domingo
19:30

ACT - Atelier de Criação Teatral
Rua Paulo Graeser Sobrinho, 305
(atrás do cemitério municipal)

ingressos a 10 e 5 reais
Informações: 3338 0450 / 3338 6189

sábado, 19 de abril de 2008

Desassossego

sobre o processo de criaçao, sobre pôr pra fora, tornar visivel...

Uma insurreição contra a homogeneidade, contra a tua homogeneidade organizada, e contra a homogeneidade do olhar de quem vê. Um dar-se conta de contradições e de condutas corporais contraditórias.
Um corpo real, o contrario de uma utopia, um lugar que existe e onde tudo vai mal e bem, alternando emoções e estados. Eles cohabitam, se cruzam, se misturam, se anulam, geram outra coisa, geram nada, desaparecem, geram ausências, que são também um estado.

Se colocar em questão, desorganizar-se, coloca em questão o seu “sistema de gestão”, o seu (até então implacável e invencível) modo de produção e organização. Difícil lidar com isso, mas até nisso você é coerente: a heterogeneidade do corpo se reflete na heterogeneidade da estrutura da obra.

Te vejo derivar entre opostos, procurando dar a ver os opostos e a deriva.

Escolher construir um solo com tantas mãos, coloca em crise a noçao de autor, mas a cima de tudo te coloca em crise como autor. Hoje vejo que esta estrutura de trabalho contribuiu para o relevo das tuas heterogeneidades. E tantas vezes insisti para que vc ficasse mais sozinho, que “sozinhasse” com elas...E agora vejo que muitos desses contrarios são nossos, que você “fala” a partir de você, “de assuntos teus para falar de assuntos nossos”. Sinto que você està sozinho, numa “solidão acompanhada”. Finalmente somos cúmplices da tua autocoreografia.

Te vejo intermitente (descontinuo, irregular), às vezes triste, às vezes feliz, mas te vejo aberto e entregue. Nessa autocoreografia de escrita contraditória, pontuada por buracos, você faz o que é possível fazer, e isso não tem sentido de desculpa, isso é sincero. Te vejo abandonar cada vez mais tuas metáforas (tão caras) para viver tuas questoes na pratica. Você começou falando em perseguir, correr atrás da nudez, do pensamento. Hoje você corre junto. Violências, humores e amores estão neste lugar real, aqui.

* * *

Sobre se realizar, realizar uma obra, sobre ficar satisfeito, sobre o valor do que mostramos, da vida, dos sonhos...

Nos nunca nos realizamos.
Somos dois abismos – um poço fitando o céu.

Invejo – mas não sei se invejo – aqueles de quem se pode escrever uma biografia, ou que podem escrever a sua própria. Nestas impressões sem nexo nem desejo de nexo, narro indiferentemente a minha autobiografia sem fatos, a minha historia sem vida. São as minhas Confissões, e, se nelas nada digo é que nada tenho a dizer.
Que há de alguém confessar que valha ou que sirva? O que nos sucedeu; ou sucedeu a toda a gente ou só a nos; num caso não é novidade, e no outro não é de compreender. (...). O que confesso não tem importância porque nada tem importância. Faço paisagens com o que sinto.
... escrevo (...) com cuidado e indiferença.
... Que serve sonhar com princesas, mais que sonhar com a porta de entrada do escritório?

Fernando Pessoa
O Livro do Desassossego, p.48
***

Sobre fazer arte...

“A arte é aquilo que nos mostra que a vida é melhor do que a arte”

(uma anotação perdida num caderno,
sem autor)
Elisabete Finger

quarta-feira, 9 de abril de 2008

sobra


aqui uma foto q sobrou, mas acho q vale a pena postar

terça-feira, 8 de abril de 2008

1ª Abertura de Estúdio (24/03)

A primeira aparição quase pública do material que estamos desenvolvendo aconteceu no cafofo no último dia 24. Digo quase pública pois contei com pessoas muito especiais e queridas, o que torna a coisa ao mesmo tempo pública e familiar (fato que me parece fundamental em aberturas de estúdio).
Pois bem. Juntei todo o material que ainda considero importantes de alguma forma, dei uma ordem para eles e coloquei em contato com a atenta platéia.

Dentre as variadas questões levantadas (e foram muitas mesmo), me parece significativo falar de algumas:

1. Parece que grande parte das pessoas identifica que o material não trata mais especificamente das questões de partida (nudez, mentira e cumplicidade). Parece consenso que o conjunto passa por tais questões, mas atinge outras;

2. Fica claro também que se trata de uma autobiografia (ou uma autoCOREOGRAFIA, como disse a Beti);

3. Destaque para o interesse das pessoas pela investigação de movimento, propriamente dita (é onde normalmente as pessoas são mais incisivas comigo...);

O que me preocupa: a superficialidade de vários elementos (a falta de aprofundamento em cada material); a hiper quantidade de materiais (será que eles efetivamente se conectam?); a falta das tão sonhadas nuances de estado (o riso tomou conta de boa parte da relação); AS CUECAS: ainda não sei exatamente qual é o lugar delas.

De qualquer forma foi um momento especial e significativo.

MUITO OBRIGADO AOS AMIGOS E AMIGAS que emprestaram suas dúvidas, críticas e sugestões.

Estou trabalhando com todas elas.

Ricardo.

Sobre sozinhar (ou sobre fazer o que é possível)


Um momento importante no processo e que ainda não teve espaço de discussão no blog foi a experiência proposta pela Jú Adur como sua colaboração frágil à criação.

No post de título “sozinho” ela apresenta sua idéia: a fragilidade que poderia me emprestar para esse momento é a relação que tem com a idéia de estar sozinha. Assim sua proposição foi que eu passasse um bom tempo sozinho no estúdio de trabalho, confinado, em comunicação com ninguém, sem livros, sem celular, sem computador.

Ficamos então, 60 horas trancados no cafofo: eu, algumas poucas músicas (relacionadas ao processo), câmera fotográfica e filmadora, papel, caneta, lápis de cor, um cachorro de pelúcia e uma rosa (os últimos gentilmente emprestados pela própria Jú).

Dentre as várias e intensas questões que poderia aqui destacar, duas me saltam aos olhos pela incisão com que influenciam o trabalho.

A primeira diz respeito ao fato de me surpreender com o quanto a experiência foi prazerosa. Em nenhum momento me senti impelido a sair, nem fiquei irritado, tenso ou ansioso com o isolamento. Me senti livre e tranqüilo, como se o confinamento me protegesse das várias obrigações que lá fora não paravam de me procurar... Isso me emprestou uma tranqüilidade pouco habitual em meu cotidiano: tempos sem pressa, sem pensar nos próximos passos, sem minha sempre presente ansiedade. Nesse ambiente me permiti a fazer o que me era possível. Fiquei com preguiça, fiz ações pequenas, fiquei tempos e tempos parado. Isso tudo está invadindo o trabalho. Uma vontade de fazer só o que é possível fazer. Nem uma caloria a mais.

Uma segunda especial situação gerou-se pelo encontro Ricardo-cafofo-confinamento-rosavermelha-goteiras. Me senti meio o Pequeno príncipe no asteróide B612, com seus vulcões e sua impetuosa e linda rosa. Mais uma vez o binômio presença/ausência no ar.

Obrigado pela oportunidade de visitar esses Ricardos Jú.

E sigo perseguindo os tantos outros.

Ricardo.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

off white



No último sábado fizemos as fotos p/ o material gráfico.
Foi muito divertido e tb cansativo demais.
Nas fotos um detalhe do estúdio e outra a equipe.
Da esquerda p/ direita:
Elisabete Finger >> Ricardo Marinelli >> Aurélio Dominoni.

Assim q o cartaz estiver pronto, vamos postar p/ vcs conferirem.

Abraço
Aurélio

sexta-feira, 21 de março de 2008

"danser c'est regarder"

dançar é olhar, observar...

Esse é o título de um artigo de Emmanuelle Huynh sobre seu contato com Lisa Nelson, um xerox antigo que "caiu" nas minhas mãos esta semana, e me fez pensar numa experiência que vivi em Angers-Fr, guiada por Camille Renahr.

Convidei o Ricardo para me acompanhar, e partimos num passeio pelo centro de Curitiba, quinta-feira à noite, véspera de feriado.

Passear com os olhos fechados no espaço urbano, guiado por alguém, corresponde à idéia de abandonar todo poder sobre o mundo e de se deixar estar no espaço, desarmado. Como sobreviver? Primeiramente pela compaixão do outro, e tudo isso que nos conduz a "viver juntos", segundo a fórmula de Roland Barthes. Em seguida, elaborando recursos interiores sobre as espacialidades, e se servindo de seus sentidos como "antenas" (...)

Laurence Louppe em Poétique de la Danse Contemporaine - La Suite
A tradução (com muitos defeitos e cheia de parcialidades) é minha mesmo...

"Dançar é olhar". Como colocar esse olhar em trabalho?
Fechar os olhos, abri-los por alguns segundos, e "fotografar um instante", fechar de novo rapidamente. Não é necessário fazer dessa imagem arquivo, papel ou quadro, a "sensação é a imagem"...

A vitrine da geladeira do posto de gasolina, as sacolas de lixo ao lado de um guarda-chuva velho na calçada, a academia de boxe, o relógio marcando 21h atrás de um balcão, as arquibancadas vermelhas e a lua aparecendo do lado esquerdo, a escultura de um abraço de família, o passeio embaixo da tenda colorida, o cartaz na pastelaria chinesa , o reflexo de nós dois no vidro, o fliperama
E tantas outras coisas...
sensações criadoras de mundos.
simples assim.

danser pode ser regarder.

Elisabete Finger

quinta-feira, 20 de março de 2008

A cueca como limite


Em meio às várias metáforas que temos utilizado como fonte de investigação no processo criativo, a presença do objeto CUECA ganha espaço privilegiado enquanto material.

Ela, enquanto objeto concreto, apareceu pela primeira vez no processo já em agosto do ano passado, por ocasião da residência em Teresina. A composição de uma imagem específica com uma única cueca ficou fortemente registrada e quase que por acaso uma sacola de cuecas surge novamente em janeiro deste ano.

Para nós elas são interessantes na medida em que podem tratar metaforicamente do limite entre nu e não-nu, já que estereotipicamente ela representa a vestimenta. Genericamente, de cueca eu ainda não estou nu. Um tênue limite que me interessa muito. É como se nela estivesse a chave que me permite balizar aquilo que se desnuda ou não. Tudo metáfora, claro.

Eis que depois de muito trabalho com elas em estúdio, várias ações surgem. Dentre as quais destaco uma seqüência de por e tirar cuecas que emerge da primeira imagem, lá do ano passado. Pois bem... aqui temos uma questão difícil para lidar! Na ânsia de não padecer de ingenuidade histórica, temos tentado investigar artistas e obras que tratam/trataram de questões próximas às nossas e eis que um dia a Beti traz para a roda um trabalho do francês Alain Buffard que para nossa surpresa trata do material “cueca” de forma incrivelmente parecida com a que estávamos tratando até então. Trata-se do trabalho “Good Boy”, de 1998 (um trecho pode ser visto no link: http://www.youtube.com/watch?v=7JY_3TKoN0U&NR=1)

Depois de uma pequena crise ocasionada pela coincidência, sinto que a aproximação só está me estimulando a aprofundar a investigação em trânsito com as cuecas.

E você, o que guarda dentro das suas cuecas?
Quais são as cuecas da sua nudez?

Ricardo.

quarta-feira, 19 de março de 2008

inspiração



Sempre fui fã de Matthew Barney. É um artista sensacional. Revisando seu trabalho mais recente, fiquei completamente enlouquecido com as imagens de nu.

Aurélio

terça-feira, 18 de março de 2008

Encontro Ricardo-Ronie / Parte 1


“Minha coragem foi a de um sonâmbulo que simplesmente vai. Durante as horas de perdição tive a coragem de não compor nem organizar. E sobretudo de não prever. Até então eu não tivera a coragem de me deixar guiar pelo que não conheço e em direção ao que não conheço: minhas previsões condicionavam de antemão o que eu veria. Não eram as antevisões da visão: já tinha o tamanho de meus cuidados. Minhas previsões me fechavam o mundo”
Clarice Lispector, A paixão segundo GH


Correndo atrás do pensamento ou pensamentos que me corr(o)em...

È também na tentativa de correr atrás de meus pensamentos e de organizar e formular minhas impressões, que escrevo aqui um pouco sobre esses dois dias de trabalho, troca e observacão com Ricardo Marinelli

Um corpo homem que se põem no espaço, que não se põem em fragilidades, um corpo forte, um corpo frágil. Um corpo de discursos e mentiras, de falácias e afetações. Um corpo denso, um corpo que transborda sua militância, suas arrogâncias e seus mais sinceros desejos e vontades. Um corpo ambíguo, cruel. Correndo atrás de seus pensamentos, ou nos mostrando aquilo que lhe corre, que lhe corrói. Ao vê-lo, me vejo também. Divido o espaço, observo sua crueldade de voyeur e de quem observa o que me é frágil, oscilo entre fragilidades e unhas afiadas. Observo a sua crueldade e doçura, desconfio. Ando pros lados, desconfio, cravo minhas unhas, falo de suas vaidades, que não lhe atinge. Um corpo de atleta, um discurso que não lhe cabe, que não cabe naquele tempo. Ele me impede de falar, não quero mostrar minha vergonha. Estar nu não é estar sem roupa. Consigo olha-lo. Ele dança. Dança das cuecas velhas, risos. Dança dos pensamentos que transbordam, pensamento de controle. De que fragilidade você fala Ricardo? O que é que te incomoda? Pergunto como alguém que não quer saber a resposta, sinto o prazer da crueldade de ver alguém que dança. Que crueldade tem em ver alguém que dança?! Falar só o que for realmente essencial. Comando 1. Pouco importa seus comandos, se são meus próprios comandos que me derrubam de meus saltos, te olho como quem porta luvas, luvas de boxe, luvas de seda, luvas de lavar louça, louça quebrada. Espero, o tempo não passa. Trinta minutos. Não passa. Saio com a angústia de quem tem pressa. De quem observa e tem pressa.

Ronie Rodrigues